Após o lançamento do EP Emballage, em abril de 2021, o grupo volta a “dar as caras”, dessa vez assumindo seu lado post-rock e kraut-rock.
O single é lançado pelo Midsummer Madness, selo independente carioca que lançou bandas de rock alternativo como Pin Ups e Cigarettes, e neste ano comemora seus 33 anos na ativa. Comandado por Rodrigo Lariú, a Midsummer se aproximou da Alles após lançar o Macintushie, um dos projetos musicais do Pedro Baapz, baixista da banda. “Sempre acompanhei os lançamentos do Rodrigo sozinho ou via Pug Records. Gostamos muito de tudo que o ele produziu e este single, para gente, indica uma constante evolução na capacidade criativa dele” diz Lariú.
Compostas e produzidas por Rodrigo Lopes em parceria com o músico turco Chadas Ustuntas, as duas faixas se originaram em loops produzidos por Chadas em seus sintetizadores analógicos. Rodrigo Lopes, da Suíça, ficou por conta dos acordes de baixo e guitarras, e escreveu as linhas de bateria para serem tocadas e gravadas por Bráulio Almeida, aqui no Brasil.
“Dá para fazer música para cada uma delas [das galáxias]. Mas acabei escolhendo Andrômeda porque me fascinou bastante. É o objeto mais distante e a única galáxia visível a olho nu. É bem curioso isso porque nosso olho humano não consegue ver outro objeto com tanta distância assim. É uma galáxia gigantesca.” diz Chadas.
Ele, que desde muito cedo tem forte relação com a astronomia, conta que conheceu Rodrigo, e consequentemente a Alles Club, num encontro em um de seus shows em Juiz de Fora. O Cosmofonia, show de Chadas, misturava imagens astronômicas com a música, apresentava composições com elementos eletrônicos e eletroacústicos, e onde o artista tocava diversos instrumentos.
Quanto a composição de Oumuamua, Chadas diz ter sido uma inspiração a partir de “uma novidade que abalou a comunidade da astronomia. Um objeto que entrou no sistema solar com uma velocidade muito incrível e descobriram vir de outro sistema, ou seja, não é daqui. Foi uma inspiração tanto para os artistas quanto para os astrônomos.”
A mixagem das músicas foi feita por Bráulio, e a masterização por André Medeiros. A arte de capa é do artista Rodrigo Braumgratz a partir de ilustração de Léo Ribeiro.
A história do clipe
Assista ao clipe em
youtu.be/MvoNrK5posc. O clipe foi produzido por Léo Ribeiro, ilustrador e animador juiz-forano, hoje habitante das terras norueguesas. Como Lopes conta, o artista é um “amigo das antigas”. E como um admirador do trabalho criativo de Ribeiro, o guitarrista que há tempos vinha pensando na criação de um videoclipe em animação para a Alles Club, o convidou para a produção visual de Andromeda.
O vídeo mescla animações coloridas de animais marinhos a fotografias em preto e branco de lugares solitários, distantes ou mesmo em ruínas — entre eles uma fábrica abandonada e uma floresta. Com o ritmo crescente da música, os cenários enquadrados e vazios vão sendo tomados por esses seres do mar, levando cores e movimento. No momento de catarse, o peixe se debate e se liberta; a menina quebra as correntes, e transforma o medo e o perigo em pedras. Esta pode ser uma das tantas narrativas possíveis para Andromeda da Alles Club.
Ribeiro conta que, mesmo não sendo especialista em mitologia grega, conectou de imediato a história da cidade onde vive, Stavanger, ao mito de Andrômeda: “Imaginei esse trabalho como uma vingança dos seres do mar. Os peixes, as baleias e os tubarões invadindo essas antigas fábricas de enlatados e peixes em conserva. A diferença fundamental entre o mito original e o clipe, é o papel da mulher. Andrômeda foi salva por Perseu, no clipe é a própria menina que transforma o monstro em pedra. Ela não precisa ser salva por ninguém. Constrói o seu caminho. A escultura de bronze que aparece na cena final, uma corrente quebrada, também faz essa ligação. Completa o ciclo econômico da cidade, hoje baseada na exploração do petróleo. Essa escultura é uma homenagem aos mortos de um grave acidente, em uma plataforma de petróleo próxima à Stavanger”, diz.
Formado em Arquitetura na UFJF, Léo criava fanzines de HQ, e logo encantou-se pelo cinema de animação. “Fui um dos primeiros a produzir curtas de animação em Juiz de Fora, no início dos anos 2000”, diz. Hoje, após andanças e muitos trabalhos na animação, retomou as ilustrações e histórias em quadrinhos.
Written by Fernanda Castilho