"A primeira coisa que eu me lembro dos ensaios do que viria a ser o Alles Club era de pensar “cara, se der um curto nessa casa vai todo mundo pro espaço”. A Casa da Bruxa de Blair era a forma “carinhosa” como eu chamava o lugar onde a gente ensaiava naquele longínquo ano de 1999. E, assim como o ambiente, a banda era nada mais que um brainstorm de sons e barulhos sem qualquer tipo de pretensão. Era uma banda para chegar e tocar. Pura e simplesmente. 


Tanto que não havia letras, nome, rigor de agenda. Nada. Era quando desse. E geralmente, a cada semana, estávamos com mais vontade ainda. 


Porque diabos a gente não levou esse projeto “a sério”? Já me perguntei isso várias vezes e nunca cheguei numa conclusão. Tínhamos tempo, espaços disponíveis para shows, estúdios, amigos para nos prestigiar. Talvez estivesse na cabeça de cada um de nós uma informalidade que não cabia sequer esse tipo de “cobrança”. 


Anos depois, foi na sorte que eu achei o único registro que tínhamos dos ensaios. Uma fita K7 velha que eu encontrei no meio de uma mudança. E comecei a ouvir. Impossível não bater a vontade de tocar aquilo novamente.


Mas, para isso, alguém precisaria fazer o serviço sujo. Fazer com que os sujeitos que se juntavam semanalmente naquela casa prestes a desabar contribuíssem com algo. Seja no que tocavam e aí a memória teria que ser posta à prova, seja em novos olhares praquelas músicas.


Seria também muito fácil reunir um bando de gente e reproduzir o que estava ali naquela fita K7. Mas faltaria aquilo que nos faz querer estar numa banda e ter orgulho dela: a alma. Era importante para o projeto ter algum sentido que os integrantes originais (na impossibilidade de estarem presentes em corpo) daqueles ensaios dessem suas contribuições para o que era um amálgama de sons, ideias e diversão se tornar em um disco. E, mais importante ainda, um disco que fizesse sentido quase 17 anos depois.


E foi isso que o Rodrigo fez. Tendo que lidar com os prazos não cumpridos, humores, esquecimentos, maluquices dos que de alguma maneira responderam. Eu aposto que os que não conseguiram contribuir ou não foram achados (são 17 anos, pessoal, as pessoas somem) estariam felizes ao ouvir o resultado “final”. Eu, Alex, Emerson, Alexandre, até mesmo o Ciro que - inconscientemente - "cedeu" uma das nossas músicas (a minha favorita, inclusive).


Mais ainda. Não há um resultado final. Porque, mais que uma banda, o Alles Club é uma ação entre amigos. É chegar, pegar a guitarra e tocar. Por isso, e pela amizade de quem estava naqueles ensaios em 1999/2000, não há qualquer tipo de problema em ver suas músicas vagarem por aí nas mãos de outras pessoas. Por que o Alles Club é mais. E todos nós, mesmo não estando no palco, nos sentimos parte da banda e temos um orgulho danado em ver a criança sair da incubadora por tanto tempo e chegar à vida.


O Alles Club era e é bom demais para ficar guardado numa caixa. 1999 é hoje e agora. Que a gente não espere mais 17 anos para descobrir o quão incrível era tudo isso."

Luiz Alberto Moura